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quinta-feira, 18 de agosto de 2011

Telefone

Eram três horas da manhã quando o telefone tocou. Alguém já havia me falado que nunca deixasse o telefone ligado quando fosse dormir a noite. Mas, sabe como é, agente não pensa que alguém vai nos ligar às três da manhã!

Fiquei tão atordoado com o toque do telefone que não sabia o que fazer. Levantei na escuridão do quarto e tateei na tentativa de desligar o infeliz aparelho. Não adiantava, eu não o encontrava e o telefone continuava a tocar. Não conseguia encontrá-lo. Onde ele foi parar? Pensa, pensa, pensa...já sei.

Peguei o aparelho.
_ Alô?
Silêncio.
_Alô?
Silêncio.
_ Que brincadeira é essa? Perguntei. O que pensa que está fazendo, acordando o camarado a essa hora da manhã?
No outro lado da linha, só silêncio.
_ Vou desligar. Falei decidido, porém sem tirar o fone do ouvido. Quando já ia desligar o aparelho, alguém resolve falar do outro lado da linha.
_ Alô, quem fala? Perguntaram do outro lado.
_ Quem fala? Você me liga a essa hora da madrugada e me pergunta quem fala? Quem é que fala, pergunto eu. Tentei ser o mais duro possível.
_ Você é um grosso, demorou a atender o telefone e ainda fala comigo desse jeito?
A voz do outro lado da linha era firme, de mulher. Falou outras coisas sem noção e depois desligou. Fiquei sentado do lado da cama tentando imaginar de quem seria aquela voz e ainda sem entender direito o que tinha acontecido. Olhei no registro de chamadas, confidencial. Me senti um imbecil, mas não podia fazer mais nada.

Após aquele dia, esperei durante uma semana inteira que ela me ligasse novamente em outra madrugada. Acordava e ficava esperando. Nada. Nunca mais ouvi novamente aquela voz. Decidi então que o telefone ficaria desligado todas as madrugadas.

Zildo Barbosa


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