OS MORANGOS
A vizinha espiou por cima do muro.
- Bom dia, seu Agenor.
- Bom dia.
- Que lindos estão estes morangos, que maravilha.
- O senhor não colhe, seu Agenor? Estão no ponto.
- Não gosto de morangos.
-
Que pena, aqui em casa somos todos loucos por morangos. As crianças
então nem se diga. Se não colher vão apodrecer no pé, uma judiação.
- É.
- Se o senhor não se incomodasse eu colhia um pouco. Já que o senhor não gosta de morangos.
- Com licença, preciso pegar o ponto na repartição.
- À vontade seu Agenor. E os morangos?
- Não prestam para comer. Têm gosto de terra.
- Pena, tão lindos!
Saiu
pra repartição. Voltou à noite. O luar batia em cheio no canteiro de
morangos. Acercou-se em silêncio. Estavam bonitos mesmo. De dar água na
boca. Pena que não pudesse comê-los.
Suspirou fundo.
Mariana,
tão linda. Linda como uma flor. Mas tão desleixada, tão preguiçosa.
Comida malfeita, roupa por lavar, pratos gordurosos. E aquele gênio!
Sempre descontente, exigindo tudo o que não podia lhe dar,
espezinhando-o diariamente pelo seu magro ordenado.
Fora realmente uma gentil idéia plantar os morangos depois que a enterrara no jardim.
(Giselda Laporta Nicolelis)
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