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segunda-feira, 22 de agosto de 2011

O BOM PORTUGUÊS

[...]O Brasil tem dessas coisas, é um país maravilhoso, com o português como língua oficial, mas cheio de dialetos diferentes.
No Rio é “e aí merrmão! CB, sangue bom! Vai rolá umach paradach”. Até eu entender que merrmão era “meu irmão” levou um tempo. Em São Paulo eles botam um “i” a mais na frente do “n”: “ôrra meu! Tô por deintro, mas não tô inteindeindo”. E no interiorrr falam um erre todo enrolado: “a Ferrrnanda marrrcô a porrrteira”. Dá um nó na língua. A vantagem é que a pronúncia deles no inglês é ótima.
Em Mins, quer dizer em Minas, eles engolem letras e falam Belzonte, Nossenhora e qualquer objeto é chamado de trem. Lembrei daquela história do mineirinho na plataforma da estação. Quando ouviu um apito, falou apontando as malas: “Muié, pega os trem que o bicho tá vindo”.
No nordeste é tudo meu rei, bichinho, ó xente. Pai é painho, mãe é mainha, vó é vóinha. E pra você conseguir falar com o acento típico da região, é só cantar sempre a primeira sílaba de qualquer palavra numa nota mais aguda que as seguintes.
Mas o lugar mais curioso de todos é Florianópolis. Lagartixa eles chamam de crocodilinho de parede. Helicóptero é avião de rosca (que deve ser lido rôchca). Carne moída é boi ralado. Se você quiser um pastel de carne precisa pedir um envelope de boi ralado. Telefone público, o popular orelhão, é conhecido como poste de prosa e a ficha de telefone é pastilha de prosa. Ôvo eles chamam de semente de galinha e motel é lugar de instantinho. [...]

RAMIL, Kledir. Tipo assim. Porto Alegre: RBS
Publicações, 2003. p. 75-76 (Fragmento).

sexta-feira, 19 de agosto de 2011

Aprendendo a rezar

Comadre Zefa era uma mulher simples, mas que se orgulhava de ter estudado até a prova de admissão, exame que era feito para ser admitido no ginasial. Depois que casou não estudou mais e dizia que não se arrependia, pois, sabia o suificiente para ajudar os seus filhos com as tarefas escolares.

O filho mais novo era seu maior orgulho.
_Que menino inteligente. Dizia para as amigas. Sabia que ele já tá aprendendo a ler? Esse menino vai longe!

A noite, suas amigas vinha para sua casa e ficavam sentadas na frente da casa e ficavam proseando a luz da lua. Certa noite, quando estavam conversando, chegou o menino.
_Mamãe, eu já sei ler. Veja. E começou soletrar à sua maneira: m-a, ma; c-a, ca; c-o, co. Comadre Zefa ficou eufórica.
_Muito bem, meu filho.
_Mamãe, quero aprender a orar. A senhora me ensina?
_Claro, meu bem. Vá dormir. Daqui mesmo eu lhe ensino. Ela não queria atrapalhar a boa conversa com suas comadres. _ Tudo o que eu disser você repete. Preste bem atenção! Disse.
_Pai Nosso...Disse ela, feliz da vida.
_ Pai Nosso.
Após esse primeiro momento, ela irritou-se com o modo como ele repetia a frase.
_ Que estás no céu...
_Estai no céu...
_Santificado, burro! Ela gritou, já cheia de cólera. E ele repetiu do quarto.
_Santificado burro...
_Santificado burro, não, menino. Ela já estava possessa.
_Espera aí que você vai aprender a orar agora. Saíu, deixando as amigas se acabando de tanto rir, entrou no querto do menino.Pegou ele pela orelha e disse a todo pulmão:
_Que menino burro. Não sabe rezar, não sabe soletrar macaco. Que vergonha, meu Deus. Eu, que estudei até a admissão, agora tenho que ver isso.

Ela lamentava-se e o menino chorava, na frente da casa, as comadres riam como se aquilo tudo não passasse de entretenimento.

Zildo Barbosa

Olha a feira!

Seu Lula estava acostumado com a sala sempre cheia de crianças, filhos dos vizinhos que vinha brincar com seus filhos e ver televisão. Com tantas crianças espalhadas pela sala da casa, o barulho era constante. Mas, mesmo assim, seu Lula se divertia vendo a criançada brincando, correndo pela casa e, muitas vezes, apenas vendo desenho animado.

Certa tarde, seu Lula estava na sala vendo TV, junto com as crianças. Sua esposa tinha mandado um dos filhos ao supermercado comprar algo que estava faltando na cozinha, mas, não o avisou do fato. Ocorre que, em determinado momento, não aguentando mais tanto barulho, seu Lula levantou-se e gritou no meio da sala:

_Qual é o preço da farinha?

Seu filho mais novo que estava sentado junto com as outras crianças, respondeu com a maior naturalidade:

_Não sei. Não fui que foi comprar!

Zildo Barbosa


quinta-feira, 18 de agosto de 2011

MENTIRAS E TRAVESSURAS

Era uma criança que comumente não mentia. Porém, certo dia, queria ir a casa de uns primos passar a tarde brincando. Minha mãe trabalhava fora e eu levava seu almoço. Aproveitei a oportunidade para perguntar se poderia, quando chegasse em casa, ir brincar na casa dos meus primos.
_Não! Minha mãe respondeu. Não saia de casa. Não me desobedeça.
_ Tá certo. Respondi. Vou ficar em casa. E assim, fui para casa.

Mas, enquanto caminhava para casa pensei: "Bom, se eu disser em casa que mainha deixou eu ir pra casa de meus primos, com certeza minha irmã vai deixar, já que eu não minto." Assim, com esses pensamentos, fui para casa. E ao checar em casa fui logo dizendo:
_ Vou pra casa de Nina brincar. Minha irmã mais velha tomava conta de nós enquanto nossa mãe trabalhava. Ela era a responsável por nós.
_ Mainha deixou? Ela perguntou. Hesitei um pouco e respondi:
_ Deixou. Eu pedi a ela e ela deixou.
_ Tá certo, pode ir. Tenha cuidado nas estradas.

Fui embora imaginando que estaria de volta antes de mainha chegar do trabalho. Ela não perguntaria e os meninos não iriam dizer nada já que não sabiam da proibição.

Ao chegar lá, porém, não passei mais que dois minutos. Estávamos brincando quando fui atingido por uma pedra, bem na minha sobrancelha. Fechei o olho e senti o sangue escorrer. Entrei em pânico. O que eu poderia fazer agora? Como eu ia voltar para casa com aquele corte na sobrancelha e minha mãe não percerber? E quando ela perguntasse o que houve, o que eu responderia?

Em meio aos meus pensamentos eu não me dava conta que estava sangrando e precisava de cuidados. O ferimento foi lavado, coloquei leite de pião para estancar o sangue e voltei para casa com um corte na sobrancelha, olho inchado e morrendo de vergonha. Queriam me levar ao hospital para fazer sutura, mas me recusei.

Quando minha chegou, eu não sabia onde colocar o rosto. Fiquei o mais longe possível, mas era inevitável, ela já tinha percebido e perguntou o que tunha acontecido. Minha irmã contou. Pior que a dor pela pedrada e o corte na sobrancelha, foi a vergonha ao enfrentar minha mãe e admitir que menti para sair de casa. Ainda hoje está no meu rosto a cicatriz para que não me esqueça.

Telefone

Eram três horas da manhã quando o telefone tocou. Alguém já havia me falado que nunca deixasse o telefone ligado quando fosse dormir a noite. Mas, sabe como é, agente não pensa que alguém vai nos ligar às três da manhã!

Fiquei tão atordoado com o toque do telefone que não sabia o que fazer. Levantei na escuridão do quarto e tateei na tentativa de desligar o infeliz aparelho. Não adiantava, eu não o encontrava e o telefone continuava a tocar. Não conseguia encontrá-lo. Onde ele foi parar? Pensa, pensa, pensa...já sei.

Peguei o aparelho.
_ Alô?
Silêncio.
_Alô?
Silêncio.
_ Que brincadeira é essa? Perguntei. O que pensa que está fazendo, acordando o camarado a essa hora da manhã?
No outro lado da linha, só silêncio.
_ Vou desligar. Falei decidido, porém sem tirar o fone do ouvido. Quando já ia desligar o aparelho, alguém resolve falar do outro lado da linha.
_ Alô, quem fala? Perguntaram do outro lado.
_ Quem fala? Você me liga a essa hora da madrugada e me pergunta quem fala? Quem é que fala, pergunto eu. Tentei ser o mais duro possível.
_ Você é um grosso, demorou a atender o telefone e ainda fala comigo desse jeito?
A voz do outro lado da linha era firme, de mulher. Falou outras coisas sem noção e depois desligou. Fiquei sentado do lado da cama tentando imaginar de quem seria aquela voz e ainda sem entender direito o que tinha acontecido. Olhei no registro de chamadas, confidencial. Me senti um imbecil, mas não podia fazer mais nada.

Após aquele dia, esperei durante uma semana inteira que ela me ligasse novamente em outra madrugada. Acordava e ficava esperando. Nada. Nunca mais ouvi novamente aquela voz. Decidi então que o telefone ficaria desligado todas as madrugadas.

Zildo Barbosa


segunda-feira, 15 de agosto de 2011

RESENHANDO COM ZILDO BARBOSA

ESTAMOS CRIANDO UM ESPAÇO ONDE POSSAMOS PUBLICAR RESENHAS DE LIVROS E DESPERTAR NOS QUE ACESSAM NOSSO BLOG O DESEJO DE LER. EM BREVE ESTAREMOS PUBLICANDO A PRIMEIRA RESENHA, ESPERAMOS QUE TODOS GOSTEM E LEIAM MUITO. LEIAM LIVROS, REVISTAS, JORNAIS, GIBIS.

ESPERO QUE TODOS SE DESCUBRAM GRANDES LEITORES E NOS MANDEM SUAS IMPRESSÕES SOBRE O BLOG COM COMENTÁRIOS E SUGESTÕES. EM BREVE ESTAREMOS ABRINDO CANAIS DE COMUNICAÇÃO PELO TWITTER E OUTRAS REDES SOCIAIS.


ZILDO BARBOSA